Bolsas de Mulheres

Gosto muito desse ensaio da fotógrafa Sarah Benton, que pediu a algumas mulheres que mostrassem o que levavam em suas bolsas.

São pequenas coleções que têm sua natureza de coleção destacada pela forma tão bonita escolhida pela artista para a exposição dos objetos.
Penso em cada uma dessas reuniões de coisas-na-bolsa, como um eu-expandido, as migalhas de pão que fragilmente marcam o caminho de João e Maria, a  cabana na cena final de "Melancolia".

Em um conto de Borges, um rei das ilhas da Babilônia  constrói um labirinto "tão desconcertante e sutil, que os varões mais prudentes não se aventuravam a entrar, e os que entravam se perdiam." Um dia, ele recebe a visita de um rei árabe, que penetra o labirinto e perambula por ele confuso até que, exausto, pede socorro divino e encontra a porta.

Tempos depois, esse mesmo rei árabe invade o reino babilônio e aprisiona o rei orgulhoso. Amarra-lhe em um camelo e segue com ele para o deserto.
Após uma longa caminhada, o rei conquistador lhe diz, “Ó rei do tempo e substância e cifra do século!, na Babilônia desejaste que eu me perdesse num labirinto de bronze com muitas escadas, portas e muros; o Poderoso teve por bem que eu agora te mostre o meu, onde não há escadas a subir, nem portas a forçar, nem cansativas galerias a percorrer, nem muros para impedir a passagem”.
Desamarrou o rei babilônio que, abandonado no deserto, morreu.

Eu expandido, as coleções-extensões podem tornar mais suave o aventurar-se pelo deserto, os objetos como pistas que marcam o espaço permitindo que ele seja experimentado. Pontos de referência singulares. Para não morrer, produzir território-em-movimento.

Texto do Borges: Os Dois Reis e os Dois Labirintos, conto do livro O Aleph.